BÁSICA
Eu tenho um estilo próprio de me vestir: básico. Camiseta, jeans e tênis. Gosto de ser assim. Talvez para facilitar meu dia corrido, talvez por comodidade; há quem diga que é puro “relaxo”, ou para tentar manter o espírito jovem, e achar que isso pode ser representado pelo meu All Star... O fato é que não me vejo de outra maneira.
Já ouvi dizer que, para uma mulher resolver uma encrenca é preciso passar batom , subir no salto e ir à luta. Para mim, quanto mais “cara limpa” e pé no chão, melhor!
É claro que às vezes é preciso sair da rotina, e é aí que começam os problemas... Como na vez que fui madrinha de formatura, e tive que colocar um salto para ornar com o vestido. Veja a cena: baile lotado, um calor terrível de janeiro, e eu grávida! É claro que meus pés começaram a doer, e tive que tirar um pouquinho os sapatos. E é claro também que meus pés incharam e eu não consegui calçá-los de novo. Conclusão: tive que dançar a valsa sem sapatos!
Mas mico mesmo foi no ano passado, quando fui com meu marido para Buenos Aires. Era época de frio, e eu comprei um casaco bonito, tipo,”sobretudo”, e para combinar, me lembrei de usar um par de sapatos de inverno que eu tinha guardado há algum tempo ( acho que comprei para alguma entrevista de emprego). Era novinho, de camurça, preto e tinha um salto largo, não ia incomodar. Vôo internacional,tinha que estar duas horas antes no aeroporto. Stress do marido, com três horas de antecedência estávamos na fila para despachar as malas. Aí eu comecei a sentir que estava pisando em algo macio, fofinho. “Nada mau”, pensei,” até que esses sapatos são bem confortáveis”. Depois de sairmos da fila, fomos dar uma volta e aí é que eu reparei que não era em “nuvens” que eu estava pisando: olhei para baixo e vi que os solados estavam literalmente “desintegrando”, se desfazendo pelo chão. Me lembrei da idade dos sapatos: há mais de dez anos não faço entrevista de emprego!!! Avisei meu marido, que perguntou se eu não tinha outro par. “É claro! Estão nas malas que acabamos de despachar!”. Então tivemos a idéia de eu ficar sentada em algum lugar enquanto ele ia procurar uma loja e comprar outro. Após alguns minutos ele retorna dizendo que a única coisa que achou foi Havaianas sendo vendidas a quase cem dólares!!! Entrei em pânico: ”-Eu não vou chegar em Buenos Aires de sobretudo e chinelos!!! Nem que custassem mil dólares!!”
O jeito então foi ir para a sala de embarque e ficar esperando o vôo bem quietinha. Não sem antes deixar um montinho de borracha preta esfarelada embaixo da cadeira e um rastro pelo saguão. Até hoje fico pensando no que o pessoal da limpeza achou que fosse aquilo: uma espécie de terrorismo,talvez...
Após três horas de espera embarcamos, e fui “bufando” de raiva durante todo o percurso. Ao chegarmos na Argentina e recuperarmos as malas, abri uma delas e logo peguei meus tênis. Tirei os sapatos e joguei numa lixeira com força. Neste dia fiz uma promessa a mim mesma: nunca mais piso em um aeroporto sem ser de tênis!
É assim que eu sou: básica!!!