No início do ano passado, eu li um artigo no suplemento cultural da revista da APM ( Associação Paulista de Medicina), do advogado e escritor José Carlos Barbuio, que comentava sobre a solidariedade que a sociedade deve ter com relação aos desabrigados. Chamava a atenção para a falta de interesse,quando lavamos as mãos ante as desgraças alheias. Havia acontecido enchentes e desmoronamentos em Santa Catarina. Neste ano, novamente assistimos ao caos que se apresenta agora em São Paulo, e também em tantas outras cidades,como o Rio, Paraná, Angra... Além da trajédia no Haiti
Fui procurar aquele artigo novamente, pois algo nele me chamou a atenção. Era um poema escrito por um anônimo há alguns anos, qdo ocorreu uma terrível enchente na Argentina. Nele, se destaca o poder da solidariedade:
"Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa lage
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério
Eu adorava exibir minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com muito frio
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar
Eu não lembrava dos idosos
Até participar de seus resgates.
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela, arroz e crianças com fome
Eu achava que minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias
Eu não me lembrava o nome de todos os Estados
Agora guardo cada um em meu coração
Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças à Deus
Vamos começar de novo"
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