domingo, 31 de janeiro de 2010

PERUIBE


PERUÍBE DA MINHA INFÂNCIA
Na minha infância, não existiam férias sem Peruíbe. Nem folga ou feriado, e nunca íamos para outro lugar. Lá era nosso refúgio, nosso paraíso, nossa folga, nosso feriado.
Tinha a casa do vovô, onde toda a família se reunia, cada um tinha seu quarto. A casa tinha um muro branco na frente, onde tirávamos fotos da família que crescia.Tinha também um tanque de areia para nós brincarmos.
Tinha banho de mar logo de manhã, a praia era mais limpa, tinha menos gente e o sol não era tão quente. Tinha os aperitivos do vovô, com a famosa caipirinha, o “cachimbo da paz”, e até as crianças davam uma ”bicadinha”. Tinha siri no molho, mariscos na casca com caldinho, ostras com limãozinho... E depois dessa farra, tinha o almoço da vovó – aquela macarronada que acabava em “escarpeta”, ou os bifes à milanesa deliciosos, ou o cação fresquinho, comprado no portinho, e até arroz com feijão e picadinho era dia de festa!
Depois do almoço era hora de cesta, cada um ia para um canto: o quarto ou a rede na varanda... No fim da tarde tinha o mergulho no mar do vovô e do papai, e as crianças iam na carona! Ou então íamos pescar siri com as gaiolas para o dia seguinte. Aí era ver os pobrezinhos andando no tanque...
As brincadeiras eram empinar pipas, jogar taco, brincar na areia. Andar na praia até o rio e colocar o pé na pedra, e ver os tatuíras saírem correndo. Além dessas “baratinhas” do mar, também tinha idiamins, besouros gigantes, cigarras, e outros insetos.
Tinha o fim de tarde: o sino da Igreja Matriz avisava a cidade toda da hora da missa. Também era hora das andorinhas fazerem sua revoada. Isso era muito lindo- o céu ficava forrado de pássaros.
Tinha a sorveteria Paulista, ou o sorvete da “dona gorda”, que todo mundo gostava. Tinha o passeio na pracinha, e a banda tocando no coreto.
Tinha o Inácio com ou sem chapéu. Tinha a expectativa de o dia seguinte ter sol ou não.
Depois de jantar, tinha as cadeiras na calçada, e todos sentavam ali, vendo o movimento da cidade.
Se começava a ventar, era de se esperar o” vento noroeste”. Todos entravam em casa, e alguém já passava a mão em um ramo de erva cidreira. A vovó já esquentava a água na chaleira, e sentíamos aquele cheirinho do chá, que o vovô chamava de “fiquitim”. Ficávamos lá dentro, ouvindo o vento, tomando chá, e curtindo as histórias e as cantorias do vovô e da vovó. Às vezes tinha brincadeiras de telepatia, ou achar o rabo do elefante, que a gente morria de rir...
Nas férias , quando os homens voltavam para São Paulo, a gente dormia juntos no quarto da vovó. Tinha as histórias dela e da mamãe: dos Príncipes Coroados, do Mimi e Arquimedes, e outras lindas, cheias de sonhos. Dormíamos ouvindo a radio "maré mansa" no radinho da vovó, e de manhã não escapávamos de ouvir o Gil Gomes.
No final de semana eles voltavam, e era uma festa: alegria, conversa, risadas e comida gostosa, como a pizza feita em casa, inesquecível era a de camarão com mussarela!
E assim era Peruíbe da minha infância. Tinha muita paz e alegria. Tenho saudades...
O tempo passou, e agora tem...


PERUÍBE DA INFÂNCIA DE MEUS FILHOS
Continua não existindo férias sem Peruíbe. Tem a casa do vovô deles, que é meu pai, e a casa da Nona, que é minha vovó.
A casa da Nona continua no mesmo lugar, o muro branco não é mais a moldura das fotos, não tem mais o tanque de areia, não tem mais o meu vovô. Mas ainda tem alegria, risadas, conversas, caipirinhas antes do almoço, comidas deliciosas por lá.
Agora a gente fica na casa perto do morro dos Itatins e da praia. È uma casa linda, com gramado, quiosque e muito espaço. Tem piscina montada no quintal, tem brincadeira a beça. As crianças se divertem do começo ao fim.
As brincadeiras mudaram um pouco, mas ainda tem bola, frescobol e taco. Tem também vídeo game e jogos no salão de brincadeiras no andar de cima.
O Inácio ainda põe e tira o chapéu, e a gente sempre espera um dia de sol.
Ainda tem o banho na praia, que está mais cheia de gente. A orla está mais bonita, com pista de caminhadas e quiosques lindos. A paisagem continua perfeita!
O portinho está no mesmo lugar, com os vendedores de peixe fresquinho, que a gente vê chegar nos barquinhos.
Tem os aperitivos da vovó, a cervejinha gelada, a caipirinha do Ricardo e os drinks do Dadi. Tem aquele almoço especial, com peixe fresquinho, ou aquela macarronada, e ainda é festa quando tem arroz com feijão!
Tem descanso na rede na varanda, tem muitos passarinhos no jardim: beija-flores, bem-te-vis, e tantos outros. Tem coqueiro carregado de cocos, que a gente colhe e toma de canudinho. Tem o barulho das ondas do mar. Ainda tem vento Noroeste, e tem chá de fiquitim. Tem o jardim da vovó com salsa, hortelã e manjericão.
Mudam os vovôs e as vovós, mudam as crianças, Peruíbe mudou, mas é a mesma. Encantadora, pequenina, alvissareira, ainda com coreto na pracinha, bandinha, praia, sol natureza. Ainda é nosso refugio, nosso PARAÍSO!!!!! E as crianças vão crescer com estas lembranças, que se tornarão inesquecíveis, como foram para mim.

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